segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Votos de pesar pelo falecimento de Mário Soares sublinham vida de combate pela liberdade e democracia


A Câmara Municipal de Palmela aprovou, por unanimidade, na reunião pública realizada a 11 de janeiro, duas moções – uma apresentada pela maioria CDU, outra pela Vereadora e pelos Vereadores do Partido Socialista e pelo Vereador da Coligação Palmela Mais – a propósito do falecimento, a 7 de janeiro, de Mário Soares.
Em ambos os textos, se destacam momentos chave da vida do ex-Presidente da República, uma das figuras mais marcantes da política do século XX, sublinhando a luta constante pela liberdade e o papel determinante na construção da democracia portuguesa e da Europa.
Abaixo, seguem os textos das moções.

Voto de Pesar CDU
«Faleceu no passado dia 7 de Janeiro, aos 92 anos, o ex-Presidente da República Mário Soares.
Destacado opositor do regime fascista, Mário Alberto Nobre Lopes Soares destacou-se em muitos dos momentos-chave do combate contra a ditadura, tendo, entre outras ações, sido dirigente do Movimento de Unidade Democrática (MUD), membro das comissões das candidaturas do General Norton de Matos e do General Humberto Delgado à Presidência da República (em 1949 e 1958, respetivamente).
Como advogado, foi defensor de numerosos presos políticos, enfrentando o Tribunal Plenário e o Tribunal Militar, e representou a família do general Humberto Delgado na investigação do seu assassinato pela PIDE, sendo decisivo na denúncia do crime.
A sua atividade política levou-o à prisão mais de uma dezena de vezes - casando, aliás, no Aljube, com Maria Barroso, sua companheira de vida e de luta -, à deportação para S. Tomé, sem julgamento e, na década de 70, ao exílio forçado em França. Em 1973, funda, na Alemanha, o Partido Socialista, de que foi eleito sucessivamente secretário-geral, ao longo de 13 anos. 
Regressou a Portugal, após o 25 de Abril, a tempo de comemorar, ao lado de Álvaro Cunhal e de outros destacados combatentes antifascistas, o 1º de Maio de 1974, momento inesquecível de celebração da Liberdade. E teve, nos dias que se seguiram, como primeira missão, a deslocação, em representação da Junta de Salvação Nacional, às capitais europeias, no sentido de obter o reconhecimento diplomático do novo regime democrático.
Exerceu, entre outros cargos, o de ministro Sem Pasta, dos Negócios Estrangeiros, Primeiro-Ministro e Presidente da República, eleito, em 1986, à segunda volta, com o apoio de toda a esquerda portuguesa, e reeleito para novo mandato, que o manteve em exercício do cargo até 1996. Foi, ainda, deputado do Parlamento Europeu, entre 1999 e 2004.
A sua dimensão cultural, humana e europeísta, a frontalidade e coragem demonstradas, ao longo de uma vida de combates pela liberdade e a democracia, reservam-lhe um lugar na História nacional e mundial e na memória dos que combateram a ditadura fascista e lutaram pela instauração da Democracia.
Reunida em sessão pública, a 11 de Janeiro de 2017, a Câmara Municipal de Palmela expressa à família de Mário Soares, ao Partido Socialista, e aos seus companheiros que com ele partilharam lutas, vitórias e sonhos, o profundo pesar pelo seu desaparecimento físico.»


Voto de Pesar PS/ Coligação Palmela Mais

«Portugal ficou de luto, com a morte, no passado dia 7 de janeiro, de Mário Alberto Nobre Lopes Soares. Deu rosto, corpo e voz à Liberdade e à Democracia, ficando eternamente ligado ao 25 de Abril de 1974.
Mário Soares é, reconhecidamente, a figura política mais marcante do Século XX. Fundador do Partido Socialista, foi um estadista que se destacou na política nacional e internacional. Lutador antifascista, pugnou pelos ideais republicanos da Solidariedade, da Fraternidade e da Igualdade, com eles e por eles viveu a sua vida e influenciou a de todos nós.
Advogado de profissão, foi Primeiro-ministro, sendo responsável pela estabilização económica do País e pela concretização do desígnio estratégico de integração de Portugal na então CEE, hoje União Europeia. Apesar dos programas de ajustamento económico que teve de gerir, foi com os Governos de Mário Soares que se deram passos importantes na construção do nosso Estado Social, de que se destaca a criação do Serviço Nacional de Saúde.
Presidente da República eleito, primeiro, com o apoio de toda a Esquerda, soube ser o Presidente de todos e todas os/as portugueses/as.
Antes e depois do 25 de Abril, na resistência à ditadura e a todas as tentativas totalitárias, e até ao fim da sua vida, Mário Soares foi sempre um incansável combatente pela Liberdade e pela Democracia em Portugal, a sua voz mais reconhecível e reconhecida dentro e fora do nosso país.
O pensamento é sempre livre mesmo na reclusão forçada. Mas, Mário Soares fez do pensamento o prefácio da ação, impaciente por fazer e paciente pela vitória desse fazer. Como se a sua força tivesse vontade própria. Talvez por isso nos pareça que nunca se sacrificou, mesmo se foi perseguido, preso, deportado, exilado. Talvez porque ele era sempre vida, fosse na zanga, no confronto, na calma do debate ou na alegria surpreendente daquela gargalhada larga.
Mário Soares não viveu como um herói, não foi santo, não fez sozinho, não ganhou sempre, não acertou sempre, não morreu como mártir nem merece idolatria. Foi um homem corajoso e convicto, um lutador cívico, um político eleito pelo povo ao serviço do povo, um homem que merece reconhecimento e gratidão para sempre. Longe de ser consensual, sempre soube gerir desacordos.
Sobre todos e todas nós fica a imensa responsabilidade de saber estar permanentemente à altura do seu legado, garantindo que, se nos batermos pela Liberdade, nunca cederemos a qualquer forma de opressão. Sermos livres e democratas é um privilégio, lutarmos para que todos e todas sejam livres é a nossa missão.
Reunida a 11 de janeiro de 2017, em sessão pública, a Câmara Municipal de Palmela expressa o seu pesar pelo desaparecimento de Mário Soares à família, aos e às democratas. Saibamos honrar uma figura ímpar e inesquecível da História de Portugal, um combatente, um inconformado, um humanista, um Português de corpo inteiro.
Obrigado Mário Soares!»